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꯭Η꯭Θ꯭ΙΚ꯭꯭Η꯭
μια ζωή χωρίς τύψεις

ᴏۡᴜᴦ sᴇ࣮ᴄᴏٙиᴅ ʟɪֹғᴇ sᴛп̵я︪︩ᴛs шʜᴇɴ шᴇ
٫⠀𑑘̸̷⠀ʀᴇп̵᳟ʟɪ۫ᴢᴇ шᴇ ᴏֵиʟʏ ʜп̵ᴠֹᴇ ᴏɴᴇ⠀ ⠀٬
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𝐈.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀𝐌𝐌𝐗𝐗𝐕

٫⠀ᴘʀᴏʟᴏɢᴜᴇ⠀𝂅⠀ᴇ́ᴛʜɪϙᴜᴇ⠀
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── ◞ ꤒ. Para muitos, a palavra "ética" realmente pode ser algo com que estão familiarizados, principalmente no que toca à ética de trabalho e atitudes anti-éticas, expressões utilizadas talvez não num dia-a-dia, mas com certa frequência. Porém, as diferentes éticas, a sua origem, e aquilo que as aproxima e distingue da moral, provavelmente são coisas totalmente fora da área de estudo e investigação, talvez até fora do interesse de muitos. Sendo assim, caso este tema seja do seu particular desinteresse, ou se simplesmente o nome Aristóteles ou Kant já é algo inável aos ouvidos e olhos do leitor, então, como diz o meu avô, a porta de saída é a serventia da casa. Se, por outro lado, despertei a sua curiosidade como um amante (ou obcecado) do saber, acompanhe-me; vamos prosseguir para o que realmente interessa.
── ◞ ꤒ. A ética, como área de estudo, distingue-se em três áreas: metaética, ética normativa e ética aplicada. Este blog terá particular atenção às éticas da virtude, deontológica e utilitarismo (clássico e de preferências), o que significa que é direcionado à área da ética normativa, e nem sequer inclui a totalidade delas, exceto se me der vontade de prolongar a escrita, o que seriam da responsabilidade e das "capabilidades" (esta expressão é uma tradução direta de “capabilities”, originária da língua inglesa falada pela autora da ética; os tradutores entram em desacordo quanto à sua utilização ou substituição por “capacidades”, todavia, é deixado à margem da preferência do estudante, uma vez que não foi adicionada ao dicionário da língua portuguesa). As éticas normativas direcionam a sua atenção para o estudo teórico sobre os princípios da diferença entre ações corretas e ações erradas, dividindo-se em intencionalismo e consequencialismo. Já quanto à origem etimológica da palavra, "𝘢𝘳𝘦𝘵𝘦̂" (do grego), significa virtude/excelência, enquanto "𝘦̂𝘵𝘩𝘰𝘴" significa caráter, e "𝘦𝘵𝘩𝘰𝘴", hábito, sendo, portando, a junção dos dois que deu origem à palavra ética. Assumimos que o caráter provém do hábito, pois é a forma como nos comportamos que o define.
── ◞ ꤒ. Relativamente à batalha (figurativamente, é claro) que existe entre a ética e moral, esta também varia consoante os filósofos. Porém, na sua generalidade, é tida a expressão «La morale commande, l'éthique recommande», de André Comte-Sponville, na sua obra "Morale ou éthique", que seria uma distinção clara entre as duas. A ética é apontada como um dilema e decisão que implicam uma autonomia singular, ou seja, é mais individual do ser, enquanto a moral são exigências de cumprimento, com previsão de sanções, normalmente de cunho social, aos incumpridores. A utilidade social de cada uma também se distingue, já que a moral terá uma função estabilizadora, como uma economia de conduta, enquanto a ética é uma justificação e fundamentação de atitudes e implica um certo grau de complexidade e evolução cultural. São também outros pontos importantes a diferenciação entre a naturalista, que diz que somos naturalmente predispostos a fazer juízos, e a ética evolucionista, que aponta para uma necessidade de adaptação.
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𝐈𝐈.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀𝐌𝐌𝐗𝐗𝐕

٫⠀ᴏɴᴛᴏʟᴏɢɪᴇ⠀𝂅⠀ʙᴏɴʜᴇᴜʀ⠀
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── ◞ ꤒ. Aristóteles é, ao menos de forma registrada, a primeira mente filosófica a falar sobre ética, criando a "Ética das Virtudes", onde tem em foco uma avaliação das escolhas e ações para alcançar a felicidade (𝘦𝘶𝘥𝘢𝘪𝘮𝘰𝘯𝘪𝘢). As virtudes éticas são, na verdade, traços de caráter, ou seja, padrões de comportamento, definindo-as como um meio-termo entre dois vícios: por excesso e por defeito. É como imaginar um arco com uma flecha no centro, que tem que se apontar em frente e estar bem centralizada para não pender mais para um dos lados. Um exemplo simples seria a coragem, que, por defeito, é covardia, mas, por excesso, torna-se ousadia; ou a justiça, onde se chega à conclusão que tanto por excesso quanto defeito torna-se injustiça. As suas obras, "Ética a Nicómaco" e "Ética a Eudemo", têm como ideia central o propósito para o qual se deve viver, onde ele explica o modelo do artesão e diferencia os gêneros de vida, mas colocando em comum a finalidade da vida humana como a felicidade. No entanto, o que é essa felicidade já é algo autónomo. Essa felicidade é, portanto, o fim último, havendo vários fins naquilo que se faz, até chegar a este, pois o que fazemos tem sempre um 'para quê', além do porquê. Esses três gêneros de felicidade são ordenados do menos valorizado ao mais, separando os dois últimos por serem dependentes de algo externo:
ㅤ𝟭. Conhecimento/saber: uma vida contemplativa;
ㅤ𝟮. Política: honrosa;
ㅤ𝟯. Prazer.
── ◞ ꤒ. Aristóteles define a virtude como "a disposição [da alma para] optar de maneira deliberada numa mediana relativa a nós, determinada por um princípio como determinaria o homem prudente". Retirando dessa expressão algumas palavras que descrevem como a atitude do homem deve ser, temos: "disposição", pois as atitudes devem se fazer acompanhar de uma escolha premeditada (não se nasce virtuoso); "mediana", pois a virtude não é igual a todos, já que seria o mesmo que medir um círculo com uma régua, quando se deve utilizar uma fita métrica, ou seja, adaptação ao contexto; "deliberação", pois não deve haver uma escolha obrigatória; e por fim, "prudência", que é a capacidade de uma boa deliberação de escolhas. O filósofo distingue ainda os tipos de caráter que existem em quatro formas:
ㅤ𝟭. Intemperança: incapacidade para distinguir o bem do mal (ausência do arrependimento);
ㅤ𝟮. Incontinência: conhecimento não levado à prática, pois cede aos seus apetites;
ㅤ𝟯. Continência: controle dos desejos para fazer o correto, mas com em esforço;
ㅤ𝟰. Temperança: coincidência entre o desejo e o que deve ser feito (quando se entra nesse estado, será para sempre);
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𝐈𝐈𝐈.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀𝐌𝐌𝐗𝐗𝐕

٫⠀ᴅᴇ́ᴏɴᴛᴏʟᴏɢɪᴇ⠀𝂅⠀ᴅɪɢɴɪᴛᴇ́⠀
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── ◞ ꤒ. Um dos maiores nomes da filosofia moderna é o alemão Immanuel Kant, que, com sua vasta obra filosófica, aborda, entre muitos outros temas, a ética. Conhecida por ética deontológica, ou simplesmente 'kantiana', como todo o resto da sua filosofia, teve seu nome provindo de 'deon', que significa dever. Para quem deseja investigar profundamente essa ética, devem ser lidas as obras "Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785)" ou "Crítica da Razão Prática (1788)". É necessário perceber que Kant também dividiu os estilos de vida do ser humano em mais ou menos dignos, sendo, em ordem do menos para o mais: prazeres, política e contemplativa. No caso, alguns afirmam que a vida dedicada à política era, na visão kantiana, igual à vida dedicada à contemplação; todavia, existem excertos dos textos do filósofo que colocam dúvidas sobre isso, partindo-se então de um consenso de que existam disparidades. Os conceitos fundamentais sobre a ética kantiana são a razão, fonte da autonomia, que difere da heteronomia causada pelas inclinações sensíveis, ou seja, não somos autônomos se seguirmos algo que não a razão. A vontade humana não é santa, ou seja, o querer não coincide com a lei, ao contrário da temperança de Aristóteles. Além disso, deve haver uma noção do conceito da 'lei moral', que é a universalidade de uma ação, ou seja, para definir se uma ação é moralmente correta, o sujeito deve considerar se todos tomassem a mesma atitude. Por exemplo, a mentira não é moralmente correta, pois ninguém deseja viver em um mundo onde todos mentem. A isso, o filósofo alemão atribui a forma de 'imperativo categórico', algo que a maioria dos adeptos da filosofia já deve, pelo menos, ter ouvido falar.
ㅤㅤ A ética divide-se pela antropologia, a conduta efetiva ou atitudes empíricas, e a moral, pura (independente da experiência), que se trata não daquilo que acontece, mas do que deve acontecer. A noção de 'dever' assume uma enorme importância na filosofia ética de Immanuel Kant. Existe uma distinção crucial para o entendimento dessa filosofia, que é a diferença entre moralidade e a legalidade:
ㅤMoralidade: ato por dever;
ㅤLegalidade: ato conforme o dever.
ㅤImperativo Categórico: deves 'y';
ㅤImperativo Hipotético: se (queres) 'x', então faz 'y'.
── ◞ ꤒ. E do que exatamente se trata essa diferença? Pois bem, a moralidade exige que o ato seja desprovido de qualquer intenção, ou seja, feito de modo desinteressado. Obviamente, essa argumentação despertou diversas objeções ao longo do mundo moderno, às quais Kant respondeu prontamente, afirmando que, uma vez que tomar uma atitude completamente desprovida de qualquer intenção ou interesse seja humanamente impossível, aquilo que se valoriza será o esforço em manter uma mentalidade desinteressada e sem procurar recompensas pelos atos. Tendo ainda atenção ao detalhe de que o filósofo não necessariamente recusa o consequencialismo, diz que ele não é ético, mas acaba por ser racional em relação à ação. O "Imperativo Categórico" trata-se de uma ordem que deve ser efetuada de forma imediata e necessária, e deve-se aplicar o pensamento de que "age apenas caso aquilo que desejas para ti próprio possa ser praticado por todos", sendo, por isso, uma máxima moral. Relativamente ao exemplo utilizado anteriormente sobre a mentira, ou seja, não ser moralmente correto mentir de acordo com a ética kantiana, surge uma objeção com o seguinte exemplo: caso uma mentira possa salvar uma vida, como numa situação em que um assassino pergunta ao sujeito A se o sujeito B está escondido em sua casa, e ele realmente está, para Kant, o sujeito A deverá confessar a verdade, o que poderá resultar na morte do sujeito B. Ou seja, essa ética é acusada de ser incapaz de resolver dilemas.
ㅤA isso, o filósofo responde que, se o sujeito A mentir e a vida do sujeito B não for salva — pois ele poderia, por exemplo, já ter fugido da casa e se cruzado com o assassino —, a responsabilidade cairá sobre aquele que escolheu mentir. Ou seja, ao dizer a verdade, "lavam-se as mãos" das consequências, enquanto a escolha de mentir sobrecarrega a responsabilidade pelo ato e suas consequências. Todavia, ao contrário da maioria dos objetivos da filosofia de uma vida eticamente correta, Kant não almeja a felicidade. Em vez disso, afirma que aquilo que a moral nos trará será a dignidade para, futuramente, nos tornarmos felizes. Ou seja, Immanuel Kant afirma que é através da boa moral que o "Homem" se torna digno da felicidade. Nessa afirmação, ele coloca as objeções dos outros contra si próprio, pois ter interesse na dignidade já faz com que as ações não sejam completamente desinteressadas. É difícil saber exatamente o que motiva o ser humano, até para ele próprio, nem sempre se consegue perceber na totalidade o que está por trás de alguns atos que, à primeira vista, podem ser apontados como moralmente corretos. O objetivo da moral é que a vontade se direcione ao que a razão (origem do bem moral) considera correto, ignorando os contextos em torno das situações em que é necessário tomar uma atitude. Ademais, a liberdade e a lei moral estão imediatamente conectadas e são interdependentes, uma vez que a moral existe porque a liberdade existe, e o ser humano só é livre se seguir a lei moral.
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𝐈𝐕.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀𝐌𝐌𝐗𝐗𝐕

٫⠀ᴜᴛɪʟɪᴛᴀʀɪsᴍᴇ⠀𝂅⠀ʙɪᴇɴ-ᴇ̂ᴛʀᴇ⠀
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── ◞ ꤒ. Num universo quase totalmente oposto, prevalece a ética do Utilitarismo, dividida entre o utilitarismo clássico e o utilitarismo de preferências. Dentro do consequencialismo, destaca-se a ética utilitarista, em que uma ação, para ser correta, depende da maximização de sua utilidade, não para quem pratica o ato, mas para aqueles que são afetados por ele. Ou seja, deve-se trabalhar em prol dos interesses daqueles que são impactados pelas ações do agente. Essa ética está diretamente associada a propostas de reformas legais e sociais, estando entre seus maiores expoentes Jeremy Bentham e John Stuart Mill. O utilitarismo clássico é regido por três princípios: bem-estar (prazer, desejos e preferências), imparcialidade (a consideração do bem-estar deve ser independente do tipo de pessoa ou de qualquer contexto em torno dela) e o dever da maximização da utilidade.
ㅤAs objeções a essa filosofia partem da insuficiência de suas respostas, pois a maioria considera que não levar em conta as intenções do agente, focando exclusivamente nas consequências, não é satisfatório para uma filosofia ética. Outros apontam a extrema exigência de sempre escolher a ação de máxima utilidade e, mais ainda, ser imparcial ao fazê-lo. Além disso, essa ética tende a considerar moralmente corretos atos que podem incluir genocídios em prol de salvar uma quantidade maior de pessoas, ou outras ações amplamente condenáveis pela maioria.
── ◞ ꤒ. Relativamente ao utilitarismo de preferências, desenvolvido pelo filósofo Peter Singer, este introduziu novos conceitos dentro da ética contemporânea, nomeadamente o de "senciência", que designa a capacidade de sentir, de forma geral, sentimentos como prazer, felicidade, dor, entre outros. O filósofo defende que a ética deve agir em prol de qualquer ser que seja senciente, sendo esse o único critério defensável para a preocupação com os interesses alheios. Por outro lado, ele é crítico de outros critérios, como a racionalidade. Além disso, trouxe também o conceito de "especismo", que é a discriminação dos interesses dos membros que não pertencem à sua espécie. Singer deixa explícito que o conceito de igualdade não exige igual tratamento, mas sim igual consideração. Peter Singer constroi uma distinção entre seres humanos (membros da espécie Homo sapiens, no sentido científico) e pessoas (seres racionais, autoconscientes, autónomos, que mantêm uma identidade ao longo do tempo e se projetam no futuro). Sendo assim, existirão seres humanos que não recebem a atribuição de pessoa e animais que são considerados pessoas não humanas, do ponto de vista ético do autor. Ele foi confrontado com uma série de objeções, entre elas o "argumento da derrapagem", que realça a necessidade de uma fronteira entre os seres que podem ser utilizados para experiências e alimentação e aqueles que não o podem – a espécie humana –, querendo com isso sublinhar que essa noção ética pode fugir do controle e permitir que sejam feitas coisas condenáveis a seres humanos desconsiderados como pessoas. Em resposta, o filósofo aponta que esse é, de fato, um aviso pertinente, mas sem efeito prático, pois, ao contrário dessa mera possibilidade, nos dias de hoje já existe uma enormidade de animais sendo explorados em condições totalmente deploráveis. Ele argumenta que a alteração proposta pode simplesmente não ter influência na forma como tratamos os seres humanos ou pode até melhorá-la.
ㅤO especismo ao qual o autor se refere é retratado em situações como a “alimentação”, pois o consumo de carne animal é um luxo e não uma necessidade, já que foi comprovado que os nutrientes que ela contém podem ser obtidos por outros meios. É lógico, então, que se conclua que Peter Singer era vegetariano, embora consumisse moluscos. Outro exemplo está nas condições de vida miseráveis que as indústrias proporcionam aos animais, em prol da redução dos custos de produção, onde os animais são vistos como objetos para lucro. Por fim, há a questão da experimentação animal, onde o filósofo aponta que, se os animais fossem assim tão diferentes dos seres humanos a ponto de não receberem nenhum reconhecimento ético, então não poderiam ser usados como cobaias para testar algo que posteriormente será utilizado pelos humanos, já que isso implica necessariamente parecenças cruciais entre as espécies. No fundo, ele afirma que aquilo que não é aceitável num ser humano também não deve ser aceito num animal.
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𝐕.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀𝐌𝐌𝐗𝐗𝐕

٫⠀ᴀᴜᴛʀᴇs⠀𝂅⠀ʟɪʙᴇʀᴛᴇ́⠀
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── ◞ ꤒ. A ética representa muito mais na vida das pessoas do que aquilo que elas imaginam. A simples forma como encaramos o certo e o errado implica diretamente quase tudo aquilo que escolhemos fazer ao longo do nosso percurso, além da forma como somos interpretados pelos outros. Além disso, também influencia a maneira como encaramos aquilo que é diferente de nós, principalmente no contexto das éticas normativas e das éticas práticas, que serão abordadas no volume seguinte deste conteúdo, já em produção. Entre elas, inclui-se a “Ética da responsabilidade”, de Hans Jonas, a “Ética das capacidades”, de Martha Nussbaum (ainda no âmbito normativo), e, já no campo prático, a bioética, a ética do ambiente e a ética animal, que dificilmente pode ser encarada como semelhante ao utilitarismo de preferências. Seja como for, existe muito mais na ética que pode ser descoberto, e é recomendado a todos que invistam nesse conhecimento, em vez de se deixarem guiar por livros de casca vazia que tentam ensinar como se deve ter um comportamento para ser socialmente aceite – um verdadeiro assassinato de árvores, diga-se de agem. Agradeço pela leitura dedicada até agora e desejo um resto de 'vida boa'.
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𝂅 ✿゙͜㈞̸ ː 𝖠𝗎𝗍𝗈𝗋𝗂𝖺 𝖾 𝖾𝗌𝗍𝖾́𝗍𝗂𝖼𝖺 𝖽𝖾 𝓜𝗈𝗋𝗀𝖺𝗇𝖺.
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ#TeamColumnist



Comments (21)
Esse é o blog que mais me despertou interesse mediante a filosofia, confesso que me perdi muito durante os textos, principalmente pela filosofia de Aristóteles.
Não sei até que ponto a moral e ética definem o ser humano, ou como nos ajudam a ser mais estoicos com base nos pontos apresentados. O que define um ser humano é complicado, sempre penso que somos movidos por interesses, seja conscientemente ou inconscientemente. Vou salvar esse conteúdo para ler, porque fiquei realmente muito interessado e me abriu um certo tipo de visão que nunca tinha parado para refletir antes.
Ademais, parabéns pelo conteúdo riquíssimo, são poucos que vejo com tamanha qualidade. Estou impressionado com a profundidade e carinho, nossa… Tive uma epifania, apesar de permanecer confuso.
A ética são, de forma bruta, as regras de comportamento que você adota durante a sua vida. Aquilo que te permite definir o comportamento de alguém, ou seu, como certo ou errado. Depois existem vários modelos de regras, eu apresentei aqui apenas alguns, inclusive mais antigos, no entanto estou pensando em trazer os mais recentes.
Obrigada pela sua leitura, é muito satisfatório para mim saber que há pessoas interessadas em aprender mais sobre isso graças aos meus blogs. :heart:
NÃO LI MAS A CAPA TA BONITA TÁ
POIS TÁ :pray: :pray: :pray:
Morgana, eu não dedico adoração a ti como adoravam deuses e os seguiam cegamente por julgarem serem corretos, mas certamente você conquistou iração de minha parte pelos teus conteúdos e tua escrita, por isso eu queria agradecer você por todo esforço e dedicação que você tem na hora de produzir suas obras. Ler seus conteúdos é uma experiência única. A forma como mistura uma linguagem didática e acadêmica mas ainda mantém uma essência única e torna a leitura menos "complicada" me faz querer sempre continuar lendo para melhorar a compreensão. No início, eu me perdia em tua escrita pelo costume de ler frases menos estruturadas e mais simplistas, sem toda aquela "essência" de ler o que o autor de fato queria expressar, mas o que ele julga ser o "certo", então quando percebi que ler seus conteúdos seria um desafio novo e gostoso, que valeria a pena, eu me propus a dar uma chance e uma parte do meu tempo para viver essa experiência. Sempre tive costume de ler fantasia e romance, o longe de grandes textos acadêmicos por terem uma linguagem formal, complicada e que dá dor de cabeça, mas eu sempre me desafio a ler teus conteúdos pois são gostosos de apreciar.
Ver pessoas como você empenhadas em se superar é por si só uma enorme motivação para eu mesma continuar tentando melhorar a forma como me comunico, de forma a adaptar a minha retórica para chegar a todos que desejem conhecer. Obrigada pela valorização do meu esforço, significa muito para mim. :heart: 🩹
E saiba que até eu me sinto assim, muitas vezes ler obras filosóficas mostra-se tão exaustivo que eu tenho que escapar para as minhas fantasias e romances, (ou seja, até mesmo quem se dedica a esse estudo a por essa dificuldade, não deve de forma alguma olhar pra isso como um defeito ou ausência de certa capacidade).
Blog muito bonito, tanto esteticamente quanto na escrita. Li tudo, pois me prendi nos tópicos muito bem desenvolvidos.
Obrigada!